Dor Lombar e Diástase: Há alguma relação?
4 de agosto de 2023
A diástase abdominal é uma condição em que ocorre o afastamento dos músculos retos do abdômen, deixando uma separação perceptível na forma de uma protuberância na linha média abdominal durante a flexão do tronco ou ao realizar esforços físicos.
Além das preocupações estéticas, a diástase também pode estar relacionada a alterações físicas, como a dor lombar (lombalgia) crônica.
A diástase afeta até 1/3 de todas as mulheres que gravidaram…
A diástase é mais comum em mulheres, especialmente naquelas que tiveram uma ou mais gravidezes. Durante a gestação, a parede abdominal se expande para acomodar o crescimento do bebê, o que pode levar ao afastamento dos músculos na região central.
Embora seja considerada uma condição normal durante esse período, em alguns casos a diástase pode persistir após o parto, causando sintomas incômodos. A sua incidência varia da seguinte forma:
- 66 – 100% no final da gestação
- 53% após o parto
- 36% até 12 meses pós-parto
A Relação entre Diástase e Dor Lombar
Estima-se que entre 11% – 21% das mulheres apresentam dor lombar persistente após o parto. Embora se trate de uma condição multifatorial e complexa, diferentes estudos sugerem que existe uma relação entre a diástase dos músculos retos do abdômen e a dor lombar.
A separação e enfraquecimento desses músculos pode causar uma série de alterações que afetam a estabilidade do tronco e da coluna vertebral, sobrecarregando as estruturas adjacentes e contribuindo para o desenvolvimento ou agravamento da dor lombar. Além disso, pesquisas mostraram que a largura da diástase pode estar diretamente relacionada com a gravidade da dor.
A diástase também pode causar alterações posturais significativas, afetando a distribuição de peso no corpo. Com a separação dos músculos retos do abdômen, a parede abdominal enfraquecida perde parte de sua capacidade de sustentar o tronco. Isso pode levar a uma inclinação anterior da pelve (anteversão) e um aumento da curvatura lombar (hiperlordose). Essas mudanças posturais geram uma pressão adicional na região dorsal e lombar.
A inclinação da pelve também altera a distribuição de forças na coluna, resultando em uma carga desigual nos discos intervertebrais e nas articulações da coluna, contribuindo para o desenvolvimento ou agravamento da dor.
Finalmente, estudos sugerem que manter uma tensão adequada na linha alba, que é a faixa de tecido que se estende verticalmente pelo meio do abdômen, é de extrema importância para a estabilidade do core. Essa tensão, quando adequada, ajuda a manter os músculos retos do abdômen próximos uns dos outros e permite que outros músculos abdominais, como o transverso do abdômen e os oblíquos, trabalhem corretamente. Quando há um desequilíbrio entre a força e o comprimento desses músculos, pode ocorrer uma tensão anormal nessa faixa de tecido e isso pode levar a alterações nos padrões de movimento, causando dor nas costas e problemas funcionais.
Tem diástase e dor nas costas? Tenha consciência corporal!
A consciência corporal é a capacidade de estar consciente e em sintonia com o próprio corpo, incluindo a percepção e compreensão dos movimentos, postura, sensações físicas e a interação entre corpo e mente. Envolve a conexão entre a mente e o corpo, permitindo que você reconheça, sinta e compreenda as sensações e os movimentos do seu corpo de forma consciente.
Manter uma postura adequada durante as atividades diárias, desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento da dor lombar relacionada a diástase. Deve-se evitar inclinações excessivas da pelve e curvaturas acentuadas na coluna lombar. Da mesma forma adoção de técnicas de levantamento de peso para fortalecimento da musculatura abdominal e lombar é fundamental para melhorar a sintomatologia.
Outras técnicas como alongamento, yoga, meditação, dança, fisioterapia, entre outros, que ajudam a aumentar a percepção e a conexão com o corpo também são aconselháveis.
O uso de cintas abdominais pode ajudar a prevenir a dor lombar nas pacientes com diástase?
Como sempre explico às minhas pacientes: “musculo que não se usa, músculo que enfraquece / atrofia”.
Embora o uso de suporte abdominal, como cintas ou faixas, possa proporcionar uma sensação de suporte e alívio durante as atividades diárias, a longo prazo pode debilitar ainda mais os músculos abdominais e piorar a dor lombar.
Nas regiões laterais do abdome anterior, existem 3 músculos: oblíquo externo, oblíquo interno e transverso. O músculo transverso do abdômen é um importante parte do core, sendo responsável pela estabilização da coluna vertebral e do tronco. Ele age como um “cinturão natural” que envolve o abdômen, fornecendo suporte e estabilidade durante os movimentos.
Quando a cinta abdominal é usada com muita frequência e de forma contínua, ela acaba assumindo parte da função do músculo transverso, reduzindo a necessidade de ativação e enfraquecendo-o ao longo do tempo. Isso ocorre porque o músculo transverso precisa ser desafiado e ativado para se manter forte e funcional.
Diástase e lombalgia: importância da Orientação Profissional
Ao se tratar de um problema complexo e multifatorial, é fundamental buscar a orientação de profissionais de saúde qualificados. Por exemplo, nas pacientes portadoras de diástase e obesidade, o excesso de peso sobrecarrega ainda mais a coluna. Por isso, a presença de um nutricionista que ajude na perda de peso é de vital importância. Junto com isso, deve-se realizar um programa de exercícios para fortalecimento muscular com o devido acompanhamento de um educador físico.
Da mesma forma, pode ser necessário a intervenção fisioterpática e, inclusive, acompanhamento de um ortopedista especializado em coluna.
Nas pacientes com diástases importantes, pode ser necessário o tratamento cirúrgico, seja por via aberta, laparoscópica ou robótica, com um cirurgião especializado em parede abdominal. Inclusive, o tratamento cirúrgico tem demostrado uma melhora importante na função muscular e na qualidade de vida das pacientes.
É importante destacar que cada paciente com diástase abdominal e dor lombar é única, e um profissional experiente poderá fornecer orientações personalizadas quando necessário.
Conclusão:
A dor lombar e a diástase abdominal estão intimamente relacionadas. As alterações posturais, a fraqueza da musculatura abdominal e a alteração da posição da pelve são elementos-chave nessa conexão. Ao compreender esses aspectos, podemos adotar medidas preventivas e buscar tratamentos adequados para aliviar a dor lombar e promover a recuperação da diástase abdominal. Lembre-se de consultar profissionais de saúde qualificados para obter orientações personalizadas e garantir a eficácia do tratamento.
Dr. Jorge Vásquez Del Aguila
CRM-MG 65607
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